Tóquio está “vazia”, mas não deserta

Na quinta-feira passada, dia 17, dei uma voltinha em Shinjuku e Shibuya para ver como estavam os bairros mais movimentados de Tóquio, em plena crise nuclear.

Percebi que a cidade estava vazia, mas não deserta. E que as pessoas que usavam máscaras não estavam se protegendo da radiação, mas de uma alergia a pólen, típica da primavera, chamada por aqui de “kafunshoo”. Eu perguntei!

“É a primeira vez que vejo essas ruas tão vazias”, me disse Shinichi Tamura, de 30 anos, que faz panfletagem no centro de Tóquio há sete anos.

Se antes da tragédia ele distribuía facilmente mil panfletos por dia, agora, ele precisa se esforçar muito para atingir a meta de 800.

Aos poucos, a capital japonesa volta ao normal mas continua não parecendo uma das cidades mais populosas do planeta. Na estação de trem de Shinjuku, sempre superlotada, as pessoas andam tranquilamente, sem se esbarrar.

Ônibus e trens circulam, mas em menor quantidade. Em certas estações, há atrasos de cinco, dez minutos e painéis nem marcam a hora das partidas – uma situação inédita no país da pontualidade.

Algumas lojas estão fechadas, outras trabalham em horário reduzido. Para poupar energia elétrica, escadas rolantes estão paradas e estabelecimentos comerciais à meia luz.

Aliás, pelo que parece, essa calmaria toda se deve mais ao racionamento de energia do que ao medo do vazamento na usina nuclear de Fukushima.

Não há falta de comida, mas as prateleiras dos supermercados continuam escassas.

O cruzamento mais movimentado do mundo, no bairro Shibuya (primeira e segunda fotos), também nunca esteve tão calmo e silencioso. Os famosos telões estão desligados.

Em Shinjuku, um dos poucos que funcionam exibe o noticiário sobre a tragédia em Sendai e as explosões na usina nuclear de Fukushima.

Férias antes da hora, pânico não!

Não vejo evasão em massa, como a mídia brasileira divulgou, mas nas estações de Tóquio, as bilheterias dos trens-balas estão mais movimentadas do que o de costume sim.

Muitos japoneses tiraram folga antes da hora. É o caso de Kuniyuki Fukuda, de 27 anos. O jovem trabalha há dois anos em um restaurante chinês da capital, mas partiu para Quioto, sua terra natal.

“Meus pais e minha irmã estão preocupados com a onda de radiação e pediram para eu voltar”, contou. O dono do restaurante ofereceu duas semanas de férias até que a situação na usina nuclear de Fukushima seja resolvida.

 

Se até lá a região de Kanto, onde se encontra Tóquio, não estiver fora de perigo, Kuniyuki não sabe se voltará. “Terei de pensar no que vou fazer”.

Kuniyuki me contou também que um amigo alemão fez o mesmo. Pediu duas semanas de folga e embarcou para a Alemanha. “Não tenho medo de terremoto, nem de tsunami, mas temo uma tragédia nuclear”, disse o japonês.

P.S.: peço desculpas pela falta de posts. Com essa loucura toda, tive de ir a Sendai e mesmo de volta a Kanagawa não tive tempo para mais nada. Só para o trabalho. Prometo contar mais detalhes nos posts seguintes ; )

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5 respostas a Tóquio está “vazia”, mas não deserta

  1. Caruso disse:

    Isso não é um post! Isso é uma matéria!! …muito bem feita por sinal! Achei interessante o detalhe das máscaras! Prato cheio pra mídia dizer que os toquiotas tbm estão apavorados com o risco da radiação! Muito bom o pseudo-post! (rs)

  2. Marcia Kawabe disse:

    Karina compartilhei seu post na minha página do Facebook. Vc sabe se houve algum problema em Odaiba? Meu marido viu que um dos parques lá pegou fogo, ainda por causa do terremoto, mas não vi nada oficial na internet.

  3. Taty disse:

    Adorei a matéria!
    objetiva e detalhista vc conseguiu sanar muitas dúvidas que eu tinha.
    Parabéns!

  4. tereza matsuda disse:

    kaaarina td bm? me add! bjcass

  5. rosangela disse:

    oi
    parabens pelo seu desempenho em demonstrar a verdadeira realidade desse fato no japao.

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