Tsunami no Japão: 1º aniversário da tragédia (parte 2)

Às 2:46 da tarde desse domingo, 11 de março, o Japão parou para prestar homenagem às vítimas do tsunami que devastou a costa nordeste do país, exatamente, um ano atrás.

Eu parei em Natori, na província de Miyagi, no que sobrou de um pequeno templo bem perto do mar. A cidade foi uma das mais afetadas e dali, do morrinho onde fica o templo, era possível ver os vestígios de um bairro que simplesmente desapareceu.

Onde havia casas, agora só há lotes vagos e montes de entulho. Além de uma ou outra coisa no meio daquela vastidão. No domingo, havia muitos carros e pessoas porque era um dia tristemente especial: o primeiro aniversário da tragédia.

Não sou budista, nem entendo bem os rituais da religião predominante no Japão. Mesmo assim, eu me emocionei com a cerimônia realizada em Natori.

Era difícil fotografar, porque eu queria participar. Queria que as pessoas soubessem que eu não estava ali somente a trabalho. Eu também gostaria de prestar a minha homenagem ao povo que eu adoro e que me acolheu tão bem!

Do templo, era possível ver ainda o mar. Como foi estranho vê-lo tão lindo e tão calmo, a poucos metros dali! Tão diferente daquele mar escuro e furioso de 11 de março do ano passado, que só vimos pela TV.

Foi a minha quinta viagem a Tohoku (nome da região nordeste do Japão), desde o dia da tragédia, e desta vez o que mais me chamou a atenção não foi a destruição.

Eu entendi como é difícil reconstruir uma cidade. E posso tentar imaginar como é difícil reconstruir dezenas delas…

Andam dizendo que a reconstrução poderia ser mais rápida. Será?

Eu acredito que ver estradas e pontes novinhas em folha, poucas semanas e meses depois da tragédia, fez a gente acreditar que o “super Japão” estaria totalmente recuperado neste primeiro aniversário.

Mas vale a pena lembrar que a cidade de Kobe, destruída por um terremoto em janeiro de 1995, segundo li por aí, levou 7 anos para ser reerguida. E isso rende elogios aos japoneses até hoje!

Se reerguer Kobe em 7 anos foi incrível, porque as pessoas dizem que 10 anos é tempo demais para reerguer a costa nordeste do país?

Eu não vi prédios reconstruídos. Mas fiquei impressionada com as casas e com as lojinhas provisórias de muito bom gosto, conforto e organização!

E com as lojas de conveniência e postos de gasolina em pleno funcionamento, “no meio do nada”.

Ainda fiquei boquiaberta, como disse no post anterior, com o lixo separado de acordo com a coleta seletiva, que parece sagrada aqui no Japão.

Imaginem ter de organizar e depois dar um fim em 23 milhões de toneladas de lixo! Neste número, que parece estar errado de tão grande, entram navios que foram parar muito longe do mar e hoje estão “estacionados” à beira das ruas.

Não acho que os japoneses estejam fazendo corpo mole ou mostrando incompetência na reconstrução. Muito pelo contrário! Em um ano, muita coisa foi feita sim.

Localizar mais de 15 mil corpos (e identificar grande parte), alojar milhares de famílias desabrigadas, demolir o que sobrou das casas e prédios atropelados pelo tsunami – com o cuidado de preservar objetos pessoais, como álbuns de fotografia e cofres – providenciar comida, roupas, dinheiro entre muitas outras coisas e, ainda, enfrentar protestos e uma crise nuclear, definitivamente, não é tarefa fácil!

O momento mais marcante da viagem foi o reencontro com a Mio Sato, uma adolescente japonesa, de Minami-Sanriku, que sobreviveu à tragédia.

Felizmente, ela não perdeu a família, mas perdeu o cachorro – que não deixa de ser um parente, um amigo muito próximo – e ficou apenas com a roupa do corpo e o celular.

Da casa dela, não sobrou nada! Aliás, ela filmou, do prédio onde se refugiou, a casa sendo arrastada pelo mar. Da cidade – uma vila, na verdade – restaram apenas 5% das construções e metade da população.

Mio nos deu um exemplo de força, otimismo e superação. Ela disse, com todas as letras, que não quer ser vista como uma coitada.

E o que eu vi, desta vez, foi uma garota cheia de vida e ânimo, trabalhando, estudando e com os mesmos sonhos de um ano atrás: “quero ser enfermeira!”

Torço muito por ela e por todo o Japão!

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6 respostas a Tsunami no Japão: 1º aniversário da tragédia (parte 2)

  1. Ra disse:

    Nossa, que está dizendo que a reconstrução está sendo lenta? Vi essas casas temporárias no Jornal Nacional e fiquei impressionada! Aqui, um ano depois da enchente, o pessoal lá em Alagoas ainda estava vivendo em barraca de lona e sem banheiro!

  2. Wander disse:

    Parabéns pela ótima matéria Karina!
    Com o seu relato parece que nós leitores estamos aí também passando pelas mesmas emoções que vc.
    Ótima jornalista e com um lado humano fantástico!!!

  3. Sergio disse:

    Olá Karina,
    Sou seu fã a muito tempo, mas sempre em silêncio. Hoje, ao ler este post, não teve como não parabenizá-la!É incrível como você consegue passar suas emoções através das palavras. Lendo seus posts é como se estivessemos “batendo um papo” com alguém muito querido. Se normalmente você me faz abrir um sorriso, neste você conseguiu me emocionar… Mais uma vez parabéns pelo seu trabalho!

  4. juliane takahashi disse:

    parabens pelos textos, karina!
    eu, com esse meu novo objetivo de “explorar” o japao, me passou pela cabeca ir visitar esses lugares destruidos pelo tsunami, sabe… mas sinceramente, nao tenho coragem…
    vamos ver, ne… quem sabe daqui mais um ano eu crie coragem…
    mas parabens mesmo pelas reportagens!

  5. @kkaaoorruu_s disse:

    Sou tão preguiçosa para seguir e ler blogs, que quase perco este seu post.
    Acabo de voltar de uma viagem à Tohoku e sei bem o que você quer dizer…
    Não consigo compreender o que impede outras municipalidades de ajudar no processamento do entulho das regiões afetadas. Dizem “ganbare” com tanta “facilidade”, mas muitos se recusam a ajudar na “hora H”. Obrigada por partilhar conosco a sua experiência.
    Vê se aparece no Twitter de vez em quando, né? rs.
    Beijos e sucesso!!!

  6. Sergio Rosa disse:

    Vale a pena assistir o documentário “Children of the Tsunami”, produzido pela BBC, sobre o impacto social e psicológico do tsunami, principalmente entre as crianças.

    http://www.youtube.com/watch?v=vxErilc3zME

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